A terceira temporada de Star Wars: The Mandalorian, série do Disney+, deu sequência à aclamada segunda temporada, mas trouxe uma trama que dividiu opiniões. Apesar de ter recompensado várias histórias iniciadas anteriormente e entregue momentos emocionantes envolvendo os personagens, a temporada também fez escolhas criativas questionáveis. Essas decisões geraram inconsistências dentro da própria narrativa da série e enfraqueceram algumas das tramas mais fortes desenvolvidas nas temporadas anteriores. Com isso, a terceira temporada muitas vezes parece deslocada em relação à evolução dos personagens até então.
Agora, os criadores Jon Favreau e Dave Filoni têm a chance de reacender a essência dos episódios mais marcantes com o filme The Mandalorian and Grogu, que chega aos cinemas em maio. Com Pedro Pascal já confirmado em cenas vestindo a icônica armadura de Beskar algo que não ocorreu ao longo da terceira temporada, há boas expectativas de que o filme recupere o brilho perdido. A seguir, estão cinco aspectos da trama que a terceira temporada deveria revisitar ou, ao menos, reformular.
O Retorno do Sabre Negro
No desfecho da terceira temporada, o vilão Moff Gideon foi derrotado de maneira intensa e dramática. Durante esse confronto, o lendário Sabre Negro foi destruído, encerrando séculos de história para Mandalore e para o legado de Din Djarin. Eliminar o sabre da narrativa principal pareceu uma grande oportunidade desperdiçada. Afinal, ao fim da segunda temporada, Din conquistou a arma em combate mesmo relutando em empunhá-la ou aceitar as responsabilidades que ela implicava.
A introdução do Sabre Negro no arco de Din Djarin foi uma adição interessante e significativa, especialmente considerando como isso foi bem explorado em O Livro de Boba Fett. Na série, vimos Din tentando dominar a arma, até mesmo se ferindo em combate enquanto aprendia a usá-la com mais eficácia. No entanto, ao entregá-la a Bo-Katan durante a terceira temporada, a decisão gerou reações mistas entre os fãs. Afinal, o sabre carrega um peso simbólico profundo na cultura Mandaloriana, e descartá-lo tão rapidamente pareceu um desperdício narrativo principalmente considerando seu potencial futuro na história de Grogu.
Grogu, que dá sinais de poder se tornar o primeiro Jedi Mandaloriano em séculos, seria um herdeiro natural do Sabre Negro. Incorporar esse elemento ao seu desenvolvimento faria sentido dentro da mitologia da franquia. Mas, com a destruição da arma, esse caminho parece cada vez mais distante.
Ainda assim, vale lembrar que Star Wars tem um histórico de reviver sabres de luz. O próprio sabre de Luke Skywalker foi partido ao meio em Os Últimos Jedi e reapareceu consertado em A Ascensão Skywalker. Esse precedente abre a possibilidade de que o Sabre Negro também possa ser recuperado talvez reconstruído a partir dos destroços encontrados nas ruínas de Mandalore. Se isso acontecer, não apenas o legado da arma seria preservado, mas também seu papel nos arcos de Din Djarin e Grogu poderia ser retomado com força no futuro da saga.
Regra do capacete de Din Djarin
A “regra do capacete” o compromisso de Din Djarin de jamais remover o capacete diante de outros é um dos pilares centrais do desenvolvimento do personagem ao longo da série. Na primeira temporada, ele quebra esse código pela primeira vez ao tirar o capacete na frente do droide IG-11, para que possa ser curado e continuar protegendo Grogu. Na segunda temporada, ele repete o gesto duas vezes: uma no penúltimo episódio e, depois, de forma profundamente emocional, na despedida com Grogu antes do pequeno partir para treinar com Luke Skywalker. Esse arco mostrou um caçador de recompensas inicialmente fechado e solitário se abrindo emocionalmente, desenvolvendo laços e colocando o bem-estar de seu filho adotivo acima dos dogmas de seu clã.
A terceira temporada, no entanto, pareceu desfazer parte desse crescimento. Logo no início, Din demonstra arrependimento por ter removido o capacete, e parte em uma jornada a Mandalore para se purificar nas águas vivas uma tentativa de se redimir perante os Mandalorianos. Essa escolha impulsiona o enredo da temporada, levando à redescoberta de Mandalore como um planeta habitável e ao início dos planos de retomada do mundo natal Mandaloriano. Apesar disso, muitos fãs sentiram que esse retrocesso no arco de Djarin enfraqueceu a construção emocional feita nas temporadas anteriores. Mesmo que se argumente que Din só tirou o capacete por Grogu, em atos de sacrifício e proteção, a mudança repentina de postura passa a impressão de que a narrativa está ignorando o desenvolvimento conquistado até ali.
No filme The Mandalorian and Grogu, Din está novamente afastado de seu clã, mas em bons termos, enquanto treina Grogu e trabalha como caçador de recompensas para a Nova República. Com Pedro Pascal confirmado no set e gravando novas cenas, é provável que o público volte a ver o rosto do personagem um sinal promissor de que o arco emocional de Din está sendo retomado, e que os temas de conexão, identidade e escolha pessoal voltarão a ter destaque na história.
O Plano de Moff Gideon
Moff Gideon foi o principal antagonista ao longo das três temporadas de The Mandalorian, embora sua ameaça tenha sido sentida mais por sua ausência do que por sua presença constante. Desde o início, sua obsessão por Grogu teve grande peso na narrativa, com o vilão comandando experimentos secretos do Império relacionados a seres sensíveis à Força, dentro de um projeto de clonagem misterioso.
Na terceira temporada, descobrimos que os planos de Gideon eram ainda mais ambiciosos: ele pretendia usar Grogu como base para criar clones de si mesmo com habilidades da Força versões aprimoradas, mais inteligentes e poderosas, com o objetivo de se tornar uma espécie de guerreiro supremo.
Dado o tom da série, ainda há espaço para expandir essa narrativa. Um aprofundamento no arco de Gideon que explore mais claramente suas motivações científicas, suas obsessões com a genética e a engenharia imperial avançada poderia restabelecê-lo como um vilão realmente ameaçador não apenas movido pela ambição pessoal, mas por uma visão sombria de poder e controle, condizente com o universo de ficção científica e fantasia de Star Wars.
Morte de Moff Gideon
Moff Gideon aparentemente encontra seu fim no final da terceira temporada, encerrando tanto seu arco pessoal quanto o do Império que o via como uma peça-chave. Sua derrota ocorre durante a retomada de Mandalore, em uma batalha surpreendentemente rápida e fácil, considerando o histórico do vilão como uma ameaça persistente e formidável para os protagonistas. A forma como sua morte é tratada soa apressada, quase como uma solução conveniente, que pouco condiz com o impacto que ele teve ao longo da série.
No entanto, Jon Favreau e Dave Filoni ainda têm a chance de reinterpretar esse desfecho — ou até reverter totalmente o destino do personagem. Dado o envolvimento de Gideon com clonagem, é perfeitamente plausível que o vilão derrotado fosse, na verdade, apenas um de seus clones. Alternativamente, a narrativa pode revelar que um clone de Gideon com habilidades na Força sobreviveu e continua à espreita, representando uma ameaça ainda mais perigosa tanto para Grogu quanto para a Nova República.
No fim das contas, se esses ajustes forem bem executados, podem aprofundar e revitalizar a jornada de Din Djarin e Grogu, tornando a experiência mais envolvente e satisfatória para o público. No auge de sua força, The Mandalorian era uma série marcada por fortes conexões emocionais e riscos significativos. Ao corrigir essas inconsistências e reforçar os arcos dramáticos, a narrativa pode recuperar sua coesão e voltar a honrar a integridade emocional que conquistou os fãs desde o início.
Origem de Grogu
A origem de Grogu foi um dos maiores mistérios da terceira temporada, com os fãs ansiosos para descobrir mais sobre seu passado antes de cruzar o caminho de Din Djarin. Esse aspecto da trama sempre foi um dos mais envolventes da série, especialmente após a revelação em O Livro de Boba Fett de que Grogu estava presente no Templo Jedi durante os eventos traumáticos da Ordem 66. A terceira temporada deu continuidade a essa linha narrativa ao mostrar seu resgate e sugerir uma fuga para Naboo, na tentativa de escapar do recém-formado Império Galáctico. Apesar de visualmente impactante, esse flashback acabou deixando a sensação de algo aquém das expectativas.
A introdução de Ahmed Best como o Jedi Kelleran Beq, embora emocionante para muitos fãs, soou mais como fan service do que um avanço significativo na trama. Best, querido na comunidade Star Wars, é uma figura icônica da franquia, mas ao trazê-lo de volta, os criadores talvez tenham perdido a chance de apresentar um novo personagem que pudesse expandir a mitologia da série de forma mais autêntica e original.
No entanto, o próximo filme representa uma oportunidade para corrigir esse rumo. Favreau e Filoni podem aprofundar a história de Grogu e de seu salvador, Kelleran, garantindo que os eventos pós-Templo Jedi contribuam verdadeiramente para o desenvolvimento do personagem de Grogu. Ao integrar esses acontecimentos ao seu arco com mais substância e não apenas como aceno nostálgico aos fãs, o filme pode fortalecer a narrativa da Criança e torná-la ainda mais significativa dentro do universo Star Wars.